Bom
pessoal depois de um certo tempo sem fazer postagens voltamos com força total
mesmo. E para isso vamos hoje falar de um dos maiores nomes do atletismo e um
dos maiores fenômenos que revolucionaram os métodos de treinamento no atletismo
em suas categorias. Então vamos falar de Emil Zátopek, mais conhecido com
a Locomotiva Humana.
Aos 15 anos, após terminar a escola secundária, Emil saiu de casa para trabalhar na fábrica de calçados Bata. Lá ele recebia casa e comida, trabalhava durante o dia e estudava na escola industrial à noite. Clubes e fábricas participavam ativamente de competições. Mesmo assim, ele só começou a correr em 1941, aos 19 anos, porque foi obrigado. Era o seu último ano como aprendiz de técnico em química de plásticos na fábrica e a participação na corrida anual de 5 km era obrigatória.
Tudo poderia ter ficado por aí, não fosse o fato de um popular atleta do clube de atletismo da cidade, que ficava próximo da fábrica, ter visto nele um grande potencial. Emil só interessou-se em participar dos treinos quando prometeram-lhe um agasalho e sapatos de corrida. Ele gostou do reconhecimento, mas especialmente da possibilidade de fugir da rotina da fábrica.
Após o primeiro ano, quando aprendeu os rudimentos do treinamento esportivo, Emil começou a mostrar o seu espírito independente e a experimentar, indo contra os preceitos do seu técnico, que acabou por deixá-lo livre para criar. Sempre uma mente inquisitiva na busca de novas formas para melhorar o seu desempenho, ele ouviu sobre o treinamento intervalado utilizado pelo treinador alemão Woldemar Gerschler.
Com 1,70 m de altura e 54 kg, o seu estilo de correr nunca foi elegante. Os ombros curvados, a boca aberta, a língua de fora, a cabeça para trás balançando de um lado para o outro, os braços cruzando em frente ao peito e uma expressão de agonia faziam pensar que ele cairia exausto a qualquer momento. Por causa da II Guerra Mundial, nos primeiros cinco anos de sua carreira, Zátopek só competiu na Tchecoslováquia. No final da guerra, foi aceito na Academia Militar de Praga. Lá, com muito prazer, descobriu que poderia viajar para o exterior representando o seu país e que os seus superiores queriam que ele treinasse.
Emil estreou no cenário internacional ao chegar em quinto lugar nos 5.000 m no Campeonato Europeu de 1946, em Oslo, com 14min25,8s. O ídolo das corridas de fundo era Viljo Heino, recordista mundial dos 10.000 m e o último grande nome de uma famosa dinastia de finlandeses voadores. Ao vê-lo pela primeira vez, Zátopek ajoelhou-se e tocou-lhe as pernas em sinal de admiração.
Naquele mesmo ano veio a primeira vitória internacional, nos 5.000 m, em Berlim. Ver que podia correr entre os melhores do mundo encorajou-o a treinar mais forte e a inovar mais. Decidiu que, ao contrário da praxe da época, não pararia no inverno. Isto significava enfrentar o frio europeu e correr na neve.
Por falta de sapatos adequados, Emil encontrou nas botas militares uma solução prática. "Onde eu arranjaria 600 a 1.000 coroas naquela época para comprar sapatos de corrida, que nem eram bons para correr na neve e nas florestas onde eu treinava?", comentou ele muitos anos mais tarde. "Com as botas, eu podia passar sobre as pedras sem machucar os pés e, quando gastavam, era só trocar por outras no quartel. Do ponto de vista técnico, elas eram deficientes, mas protegiam os pés e obrigavam-me a alongar a passada na neve."
Zátopek possuía grande motivação, que o fazia descobrir reservas insuspeitadas de energia. Para ele, um bom desempenho era apenas o resultado dos treinos em condições adversas. A sua filosofia era treinar tão forte quanto possível para que a competição parecesse fácil.
O treinamento de inverno deu frutos. Em sua primeira prova de 5.000 m na temporada de 1947, espantou o mundo com um tempo de 14min8,2s, então a segunda melhor marca de todos os tempos. Depois, em Helsinque, derrotou Heino em casa, nos 5.000 m, terminando o ano invicto e ranqueado como o primeiro do mundo naquela distância.
O primeiro recorde mundial veio no início da temporada de 1949, nos 10.000 m, durante o Campeonato das Forças Armadas, em Ostrava, na Tchecoslováquia. "Na altura dos 6 km, já sem adversários, fui avisado pelos alto-falantes que estava em ritmo superior ao recorde de Heino. A torcida começou a pedir o recorde. Eu senti-me forte e corri para 29min28,2s", contou depois Zátopek. Ele quebrou a marca de Heino em 7,2 s e tornou-se o primeiro não-finlandês recordista dos 10.000 m desde 1921.
O seu rosário de recordes mundiais iniciou em 1949 e estendeu-se até 1955. Muitos deles ocorreram em competições oficiais. Mas dois foram encomendados pelo governo comunista. Acostumada a dominar o mundo das corridas de fundo nos últimos 40 anos, a Finlândia exigiu reação. No dia 1 de setembro de 1949, Heino baixou a marca de Zátopek em 1 s. Ao saberem da notícia, os superiores do tenente Emil pediram que ele tentasse recuperar o recorde "para a honra do povo tcheco".
A 23 de outubro ele triturou o recorde de Heino, correndo os 10.000 m seis segundos mais rápido do que o finlandês, em 29min21,2s. O segundo colocado chegou quase três voltas atrás. Apesar de várias tentativas, Heino nunca mais conseguiu recuperar o recorde mundial.
Mas a temporada de 1950 ainda não acabara. Emil tinha pela frente o Campeonato Europeu de Atletismo, o mais importante acontecimento atlético mundial da época depois dos Jogos Olímpicos. Duas semanas antes da competição, ele foi hospitalizado por intoxicação alimentar ao comer carne de ganso estragada. Enfraquecido, os médicos recomendaram-lhe repouso total.
Tanto treino resultou na conquista do recorde mundial da hora de uma forma assombrosa. No Campeonato Nacional das Forças Armadas, em Praga, ele abriu vencendo os 10.000 m e seguiu correndo sozinho para quebrar o recorde de Heino. Cobriu 19.558 m em uma hora e prosseguiu até completar 20 km em 1h1min15,8s, também em tempo recorde.
Depois de Melbourne, Emil competiu mais uma temporada. Recuperou a boa forma, mas os anos de treinamentos exaustivos começavam a pesar e ficava cada vez mais difícil reproduzir as enormes cargas de trabalho com que acostumara-se. Após vencer uma corrida de cross-country em San Sebastian, na Espanha, resolveu retirar-se das competições em 1957, aos 35 anos de idade e doze de carreira internacional.
Em 1968, Zátopek tinha o posto de coronel do Exército quando as tropas do Pacto de Varsóvia invadiram a Tchecoslováquia, episódio conhecido como a Primavera de Praga. Numa manifestação na Praça Wenceslas, tomou o microfone e falou contra a presença de tanques soviéticos. Depois correu entre eles distribuindo panfletos anti-soviéticos.
Então um ativista político em favor da liberalização do país, preconizada pelo primeiro-ministro Alexander Dubcek, fez críticas abertas à União Soviética, que não dava a seus aliados “ar para respirar”. Ele era “comunista, sim, mas, acima de tudo, um tcheco”. Ousou mesmo dizer que a URSS deveria ser impedida de participar dos Jogos Olímpicos do México.
Como punição, em 1969, ele teve a sua patente de coronel cassada, foi expulso do Exército e do Partido Comunista, impedido de viajar ao exterior e de trabalhar em Praga. Tornou-se proibido falar o seu nome nos países da Cortina de Ferro. Zátopek só tinha licença para executar trabalhos manuais. A fim de sustentar-se e à esposa – não tinham filhos – precisou submeter-se a serviços de vigilância e faxina, inclusive de latrinas
Em 1976, foi reabilitado. O Ministério do Esporte, aproveitando o seu conhecimento de línguas estrangeiras, empregou-o como “espião esportivo”, incumbindo-o de traduzir publicações à procura de ensinamentos de técnicos estrangeiros. Ficou no Ministério até 1982, quando permitiram que se aposentasse. Algum tempo depois foi chamado de volta para ajudar na preparação de filmes documentários sobre esportes.
Em 1975, Zátopek recebeu da ONU o Prêmio Pierre de Coubertin, por promover a prática sadia do esporte. Mesmo assim, o casal continuava desprivilegiado pelo governo. Durante anos a Federação Internacional de Atletismo (IAAF) tentou homenageá-lo, mas a autorização para a viagem era sempre negada. Finalmente, no fim da década de 80, o presidente da IAAF, Primo Nebiolo, viajou a Praga para condecorá-lo.
Sempre foi assim, até a sua morte, em 21 de novembro de 2000. Em seu último ano de vida, Emil foi hospitalizado três vezes no Hospital Militar Central, em Praga. Primeiro, devido a uma fratura de fêmur. Depois, no dia 4 de setembro, uma infecção viral originou uma pneumonia, da qual ele recuperou-se, mas ficou enfraquecido. Finalmente, um derrame cerebral, sofrido no dia 30 de outubro, levou-o de volta ao hospital. A seriedade do derrame afetou o coração, os rins e os pulmões. Morreu de apoplexia cerebral, deixando viúva Dana Ingrova Zátopeková, a sua companheira ao longo de 52 anos.
A sua morte provocou manchetes e editoriais relembrando os seus feitos dentro e fora das pistas nos maiores jornais do mundo. Os seus 18 recordes mundiais e 51 recordes tchecos, a conquista da tríplice coroa, as quatro medalhas olímpicas de ouro e uma de prata, os três títulos de Desportista Mundial do Ano (1949, 1951 e 1952) – concedido por votação pelos cronistas esportivos de 38 jornais do mundo – a sua grandeza como ser humano e inovador do treinamento esportivo receberam menção nos mais diversos idiomas.
O corpo do tcheco voador foi velado durante vários dias no Teatro Nacional, em Praga. Segundo os jornais tchecos, cerca de um milhão de pessoas – quase um décimo da população do país – passou por lá para a derradeira despedida. Ao sair do teatro, rumo ao cemitério, o caixão coberto com a bandeira nacional recebeu o aplauso de milhares de pessoas e uma salva de tiros disparada em sua homenagem. Alain Mimoun, com 80 anos, amigo querido e eterno adversário fez questão de estar presente. Lasse Arturi Viren, bicampeão olímpico (1972-1976) dos 5.000 m e 10.000 m e ex-recordista mundial em ambas as distâncias, representou a Finlândia.
Quadro de medalhas que adquiriu ao longo da hua careira no atletismo
REFERÊNCIAS: http://www.remolivre.com/emil_zatopek.htm José Luiz Emerim: opefa_remo@yahoo.co Wilson Reeberg: wilsonreeberg@uol.com.br